A guerra contra a Ucrânia acelera a busca da Europa por energia no Mediterrâneo Oriental
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O Mediterrâneo Oriental pode desempenhar um papel cada vez maior na segurança energética da Europa, uma vez que vários recursos da região poderiam ser desbloqueados tendo em consideração a guerra em curso contra a Ucrânia e a intenção da União Europeia (UE) de reduzir a dependência da energia russa.
A UE importou quase 45% do seu gás da Rússia em 2021, antes da guerra na Ucrânia, o que representa 155 mil milhões de metros cúbicos (bcm) anualmente. As interrupções no fornecimento de energia devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia resultaram num aumento de quatro vezes nos preços do mercado energético. A cessação total dos fornecimentos russos poderia mergulhar a Europa na recessão. É, portanto, imperativo que a Europa identifique soluções a longo prazo para garantir que não fique presa numa futura crise energética. Igualmente importante é que a Europa necessitará do gás como reserva para as energias renováveis.
O hidrogénio verde gerado por energias renováveis ou por energia com baixo teor de carbono também é fundamental para a transição energética. Os gasodutos de transporte seriam uma componente necessária de uma futura economia do hidrogénio. Por conseguinte, a Europa deve investir em novos projetos de desenvolvimento de gás e hidrogénio verde; a questão é: “Onde?”
A resposta reside no facto de a União Europeia ter de tomar uma “decisão estratégica” de investir no gás do Mediterrâneo Oriental. O investimento no gás do Mediterrâneo Oriental tem o benefício de encorajar e cimentar a estabilidade regional, fortalecer os Estados-Membros e ajudar a Europa na transição da Rússia para fontes de energia indígenas e outras fontes de energia próximas. Mas a Europa deve comprometer-se com novos contratos de longo prazo, apesar da sua relutância em assinar contratos de 15 a 20 anos para o gás natural devido à sua estratégia declarada de ser neutra para o clima até 2050.
Egito e Israel atuam como fornecedores confiáveis de gás para a Europa
Com vista à importação de gás regional, a UE celebrou um Memorando de Entendimento (MoU) conjunto com o Egipto e Israel, através do qual o Egipto irá liquefazer o gás natural israelita e enviá-lo para a União Europeia. De acordo com os termos do memorando de entendimento, os fornecimentos aumentarão de 5 bcm para 7 bcm em 2023 e nos anos subsequentes.
As quantidades podem aumentar ainda mais, uma vez que a capacidade máxima de produção israelita e egípcia ainda não foi alcançada. Israel tem 500 bcm adicionais de gás disponíveis para exportação e pode fornecer à Europa 10-15 bcm anualmente se se materializarem novos investimentos em gasodutos e instalações de liquefação. Os dividendos da execução do memorando de entendimento são múltiplos, desde a recuperação económica do Egipto até à segurança energética de Israel.
A venda de gás fornece ao governo egípcio a moeda estrangeira de que necessita para sustentar a sua população de 100 milhões de habitantes. A venda de gás também solidifica as relações de Israel com a Europa num momento de necessidade. No geral, o memorando de entendimento tripartido pode revelar-se um factor de mudança nas relações de Israel e do Egipto com a União Europeia.
A energia como uma oportunidade de ouro para Chipre
A Grécia e Chipre também podem apresentar fontes alternativas de fornecimento de energia à Europa. Por seu lado, Chipre pode fornecer à Europa 8 bcm anualmente do campo de gás Afrodite. A grande empresa americana Chevron anunciou a aceleração dos planos de desenvolvimento após a recente perfuração bem-sucedida de um poço de avaliação no campo de Afrodite, na costa de Chipre. Mas esta é a ponta do iceberg. Chipre descobriu reservas de aproximadamente 700 bcm no poço Cronos–1 perfurado no Bloco 6; em Calypso, no Bloco 7; e, em Glauco, no bloco 10 da Zona Económica Exclusiva de Chipre.
O fornecimento de energia destas descobertas deverá ser enviado para o Egipto para liquefacção e exportação para a Europa ou dirigido para o Terminal de Recepção e Regaseificação de Gás Natural Liquefeito na área de Vasilikos, em Chipre, que deverá estar operacional em Outubro de 2023.
Uma opção adicional é a construção de um gasoduto submarino desde os campos de gás em Israel até Chipre, onde o gás será convertido em GNL e depois enviado para a Europa. Esta foi uma proposta inicialmente feita pela empresa energética grega de média dimensão, Energean Oil & Gas, que possui vários campos em Israel e foi abraçada pelas lideranças israelita e cipriota.